Alguns ventos favoráveis sopram para um nicho de negócios que nas últimas duas décadas vêm se desenvolvendo de forma significativa no mercado brasileiro. Trata-se da reciclagem de peças plásticas pós-consumo. Uma boa notícia para as empresas do ramo foi dada no final de 2015. No dia 25 de novembro foi assinado, o acordo setorial de logística reversa das embalagens fabricadas no Brasil, quaisquer que sejam os seus materiais. A cerimônia ocorreu na sede do Ministério do Meio Ambiente, em Brasília-DF. A meta da iniciativa é reduzir em 22%, em um prazo de três anos, a quantidade de embalagens recicláveis destinadas aos aterros sanitários. Essa porcentagem deve continuar crescendo nos anos seguintes, até ficar próxima dos 100%.
O acordo está previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada em 2010 e regulamentada em 2012. O documento leva a assinatura de representantes de vinte associações industriais representantes dos fabricantes de embalagens (plástico, papel, metal e alumínio), empresas usuárias de embalagens (indústrias de alimentos, bebidas, confecções e outras) e varejo (supermercadistas e atacadistas). Todas as entidades participam da associação Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), criada para criar as condições do acordo. Entre elas, três ligadas à indústria do Plástico: Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) e Instituto Socioambiental dos Plásticos (Plastivida).
Segundo Miguel Bahiense, presidente da Plastivida, a assinatura do acordo é um marco histórico, uma vez que concretiza mais de 20 anos de tramitação do Projeto de Lei que deu origem à PNRS e aos quase cinco anos do processo de regulamentação e negociação para se chegar ao texto final. Para o executivo, a expectativa é de aumento gradual e significativo da quantidade de embalagens a serem destinadas à reciclagem, gerando emprego e renda, além da preservação ambiental.
“Também acreditamos que a assinatura do acordo permita à sociedade reconhecer a atuação e os investimentos das indústrias e empresas de todos os setores envolvidos na infraestrutura existente para a reciclagem de todo tipo de embalagens”. O acordo relativo ao setor de embalagens se soma às já assinadas parcerias verificadas nos setores de agrotóxicos e de óleo mineral. Ainda estão em fase de elaboração acordos na área de medicamentos e de eletroeletrônicos.
Acordo sobre o PNRS à parte, outro fator pode colaborar com o desempenho do segmento de reciclagem. A alta forte da cotação do dólar proporciona boa oportunidade os envolvidos com esse mercado. Explica-se. Com o real valorizado, o preço da resina virgem, bastante influenciado pela cotação da moeda, estava muito próximo ao da reciclada. No novo cenário, a resina reciclada se tornou mais competitiva e a procura deve apresentar importante crescimento.
Mãos à obra – A meta estipulada pelo acordo de reduzir a quantidade de embalagens recicláveis destinadas aos aterros sanitários em 22% no prazo de três anos é ambiciosa. Para atingi-la, os signatários realizaram um estudo um estudo de viabilidade técnico-econômica que mostrou os caminhos a serem percorridos. “Precisamos trabalhar em conjunto e fazer o melhor possível”, explica Sílvia Rolim, assessora técnica do Plastivida.
Para Sílvia, mesmo antes da promulgação da PNRS, os empresários do setor já vinham trabalhando bastante no sentido de elevar o índice de reciclagem das embalagens pós-consumo. Para exemplificar, lembra o esforço que vem sendo feito por uma série de indústrias no estado do Paraná, que vêm obtendo resultados positivos. “Entre outras iniciativas”. A expectativa é de incentivar projetos como esse, para incrementar os negócios de reciclagem de forma gradativa. “Vamos acompanhar os resultados mês a mês, o que não era feito até hoje”.
Não existem estatísticas atualizadas muito confiáveis no que se refere à atividade. Estimativa baseada em pesquisa encomendada pela Plastivida à Maxiquim, consultoria especializada no segmento industrial, revelou, em que esse segmento movimentava em torno de R$ 2,5 bilhões no Brasil em 2011. O total de plásticos reciclados mecanicamente era estimado em 21% do total produzido.
À época, o setor era formado por 762 empresas voltadas para a atividade, com capacidade instalada de 1,7 milhões de toneladas, e empregava quase 19 mil colaboradores. Os números atuais, de acordo com especialistas, não devem ter sofrido grandes variações. Possíveis quedas ocorridas devido à crise econômica podem ter sido compensadas pela melhora na estrutura da atividade.
Essa estrutura é insuficiente para atender o objetivo traçado pelo documento. Para se chegar à meta, serão necessários investimentos voltados para triplicar a capacidade produtiva do setor. O esforço compreende vários tipos de iniciativas. Entre elas, talvez a principal seja melhorar a operação de coleta dos materiais. Hoje, no Brasil, os catadores têm papel fundamental nesse tipo de operação. A atividade, por conta de seu caráter social, é protegida por lei. Para incentivá-la, os empresários da associação Compromisso Empresarial para Reciclagem, pretendem realizar cursos e investir na infraestrutura das cooperativas de catadores.
Em paralelo, outras formas de atuação podem ajudar a tarefa. Um dos planos é a instalação de pontos de entrega voluntária. Eles devem ser colocados em supermercados e outros locais a serem definidos. Também devem ser promovidas campanhas de educação ambiental para incentivar a adesão da população. “Sem o apoio das pessoas fica muito difícil levar adiante o desafio”. O poder público, por sua vez, precisa dar sua cota de sacrifício. “Os governos municipais precisam investir em coleta seletiva, caso contrário os resultados podem ser prejudicados”.